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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Oceanógrafo do ES diz que lama no Rio Doce vai afetar mar e mangue

Oceanógrafo do ES diz que lama no Rio Doce vai afetar mar e mangue

Ele diz que a foz do rio é a mais rica em biodiversidade marinha do Brasil.
Tartarugas gigantes, golfinhos e baleias terão reprodução prejudicada.

Do G1 ES, com informações da TV Gazeta
Oceanógrafo diz que é impossível salvar o Rio Doce (Foto: Reprodução / TV Gazeta)Oceanógrafo diz que é impossível salvar o Rio Doce
(Foto: Reprodução / TV Gazeta)
A chegada da lama de rejeitos de mineração à foz do Rio Doce, no Norte do Espírito Santo, vai afetar o mar e o mangue, o que pode causar extinção de espécies, segundo o oceanógrafo mestre em toxicologia Paulo Rodrigues.
"A gente atingiu o sistema central de um grande rio e ele vai chegar num ambiente marinho da maior biodiversidade. É impossível conseguir salvar alguma coisa. Contra esse desastre, a gente só tem que prever futuras ações para evitar. Tem espécies que vão ser perdidas, outras vão estar vivendo, mas vão estar quase dizimadas ou fadadas à extinção", disse o especialista.
Baixo Guandu foi a primeira cidade atingida no estado e Colatina será a próxima a receber rejeitos de minério provenientes do rompimento da barragem da Samarco, cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton, em Mariana (MG). A previsão é de que a lama chegue à foz do Rio Doce nesta sexta-feira (21), segundo o Ibama.
A lama vai atingir o litoral Norte do estado, na localidade de Regência, afetando espécies como a tartaruga gigante, o golfinho pontoporia e as baleias jubartes, segundo o oceanógrafo. Com o vento Sul, a lama pode chegar até o litoral de Vitória e atingir manguezais.
De acordo com Paulo Rodrigues, a foz do Rio Doce é uma área que concentra a maior biodiversidade marinha brasileira e pode matar espécies ou causar efeitos crônicos, a longo prazo, que interferem na reprodução.
"Primeiro que a chegada dessa lama, pela fluidez dela, pela concentração de substâncias, de partículas, ela vai causar a morte da fauna e da flora. Temos a água quente, que vem da corrente do Brasil e a água fria, vinda da ressurgência do Cabo Frio, então temos espécies das duas águas, tanto de peixes, de corais, baleias e golfinhos. As substâncias que vêm junto com essa lama podem provocar efeitos agudos, chegar matando, como está acontecendo em todo o rio, ou efeitos crônicos, potencialmente danosos para a reprodução de animais", explicou.
O especialista acredita que a lama será eliminada do rio, mas a contaminação vai permanecer. "A gente espera que a água seja eliminada do rio e que dilua no oceano, infelizmente. Mas o sedimento também tem essas toxinas. Se você não limpar o sedimento não adianta a água estar limpa, ele pode causar um efeito crônico", disse.
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 Onda de lama e rejeitos de minério chega a Baixo Guandu, Espírito Santo (Foto: Fred Loureiro/ Secom-ES) Onda de lama e rejeitos de minério chega a Baixo Guandu, Espírito Santo (Foto: Fred Loureiro/ Secom-ES)
Risco à biodiversidade marinha
Os golfinhos da espécie pontoporia, as tartarugas gigantes e as baleias jubartes podem ser afetadas pela lama.
"Lá existe uma população de golfinhos que é a pontoporia. É o único registro no Norte dessa população de golfinhos, que já está em extinção. O ambiente também é procurado pelas baleias jubartes, também pode haver impactos nesses animais", afirmou o oceanógrafo.
De acordo com Paulo Rodrigues, a foz do Rio Doce é o único local regular no Brasil de reprodução da tartaruga gigante, espécie que já está em extinção.
"As tartarugas estão no pico reprodutivo. A gente estava tendo o recorde de desova. Lá, temos o segundo sítio reprodutivo da cabeçuda e da gigante, que vai todo ano se reproduzir no local. Estamos retirando os ninhos da foz do rio e levando para áreas mais distantes. As tartarugas são seres migratórios e, no ciclo reprodutivo, elas vão estar em contato direto com essa poluição. Mas a gente espera que elas possam sair à medida que ela chegue", explicou.
Quando acontece uma catástrofe dessa, você reduz muito a população. Mesmo ela tendo uma presença pequena, ela pode estar fadada à extinção, porque ela não tem variedade genética ou por não conseguir se reproduzir mais"
Paulo Rodrigues, oceanógrafo mestre em toxicologia
Rodrigues informou que a lama não precisa ser tóxica para afetar a biodiversidade marinha. A morte das algas por falta de luz, por exemplo, já causa desequilíbrio.
"Na foz do Rio Doce é onde começa a plataforma de Abrolhos. Existe um risco muito grande para os pescadores, para a biota que existe ali. A maior concentração de corais, por exemplo, pode ser impactada. A lama não precisa nem ser tóxica, apenas evitando que a luz penetre na água, as algas são mortas e os corais também. Estamos falando da base da estrutura do ambiente marinho, é a casa dos peixes" afirmou.
Para o oceanógrafo, algumas espécies da região vão ser dizimadas. "Quando acontece uma catástrofe dessa, você reduz muito a população. Mesmo ela tendo uma presença pequena, ela pode estar fadada à extinção, porque ela não tem variedade genética ou por não conseguir se reproduzir mais", opinou.
Outras espécies podem ser preservadas nos afluentes. "A gente espera que nos afluentes do rio possam ter sobrado algumas espécies que possam repovoá-lo, mas a gente acredita que o impacto seja muito grande", disse.
Peixe agoniza na lama do Rio Doce (Foto: Leonardo Merçon/ Instituto Últimos Refúgios)Peixe agoniza na lama do Rio Doce (Foto: Leonardo Merçon/ Instituto Últimos Refúgios)
Peixes e consumo humano
Segundo o especialista Paulo Rodrigues, os impactos causado pela lama podem afetar a pesca e o consumo de peixes pela população.
"As populações costeiras vivem do consumo da pesca. São impactos que podem chegar até a mesa dessas pessoas. Essas toxinas, essas substâncias que podem estar atreladas à lama, são bioacumuladoras e biomagnificas. Quando chegam à nossa mesa, elas já estão em alta concentração", disse.
De acordo com Paulo, será necessário fazer monitoramento da concentração das substâncias nos peixes para verificar se elas são tóxicas.
"A gente vai ter que fazer esse monitoramento, saber qual é a concentração dessas substâncias que estão chegando às regiões marinhas, aos estuários, para saber se isso vai causar um dano aos animais, se vão concentrar substâncias tóxicas nos animais ou não", explicou.

Manguezais
Segundo Rodrigues, os manguezais também serão afetados pela lama, e espécies locais, como os caranguejos, podem ser prejudicadas.
"Chegando mais ao Sul, na região costeira, ela pode entrar com a maré nos manguezais. Então os manguezais são os berçários dos oceanos, dos mares. Mais de 70%, 80% das espécies marinhas de grandes peixes entram no manguezal. Tem espécies locais, como os caranguejos, que respiram na água, então eles podem ser afetados por essa lama", disse Paulo Rodrigues.
* Com informações de Poliana Alvarenga, da TV Gazeta.
Novo infográfico barragens Mariana atualizado (Foto: G1)
 

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