Integrante do Los Hermanos envia carta com crítica a Michel Teló
A faixa do paranaense, ex-integrante do Grupo Tradição, alcançou sucesso estrondoso durante o ano passado e a pretensão do músico é que durante 2012 isso aumente internacionalmente, o que já começa a acontecer a largos passos. Recentemente, Michel Teló que na Europa ultrapassou sucessos de músicos como Adele e do grupo Coldpay, foi destacado pela revista Forbes, que compara a carreira do artista a outros nomes como Carmem Miranda e Gisele Bündchen. Agora, o próximo objetivo é emplacar os hits no Reino Unido e EUA.
Em contrapartida, o sucesso de Teló cresce proporcionalmente a discussões sobre temas como qualidade musical e o reconhecimento de artistas brasileiros no exterior. Neste contexto, o texto do blog Instante Posterior, alimentado por Bruno Medina, vem para fomentar o assunto. As frases geraram repercussão no Twitter e fizeram o assunto entrar na lista dos mais comentados.
"Prezado Michel,
Antes de mais nada, feliz 2012! Espero que sua noite de réveillon tenha sido memorável; a minha com certeza foi, visto que, na festa em que estive, a chegada do novo ano foi relegada a segundo plano devido a batalha campal que se deu entre o grupo que queria ouvir “Ai se eu te pego” em looping até o amanhecer e o outro, que não desejava escutar a música sequer uma vez. Ao invés de comer uvas ou pular 7 ondinhas, os presentes preferiram se dedicar a calorosas discussões sobre temas como direto de expressão, identidade cultural brasileira e tolerância, com direito a argumentos do quilate de “é proibido proibir” e “não quer ouvir, tape os ouvidos”.
Como se não bastasse, minha mulher – que por razões injustificáveis ainda não conhecia o hit do verão – deixou o local entoando os versos criados por Axé Moi (também conhecida pela Dança do Quadrado), só que errado (ai, delícia, se te pego/ai, delícia, se te pego), o que apenas contribuiu para que a referida música se apoderasse do meu cérebro tal qual o exército americano fez com o território afegão em sua cruzada anti-terrorismo. Apesar da gravidade dos fatos descritos, saiba que não guardo rancor de você. Afinal, eu mais do que ninguém sei o que é estar a frente de uma canção que fugiu do controle. Na época em que Anna Júlia foi lançada, ao menos, não havia Youtube, o que certamente poupou nossos detratores da infindável proliferação de clipes da música, protagonizados por bêbados gregos dançando em Ibiza ou por italianos solitários cantando o refrão pegajoso em frente a webcam.
Ao assistir ao vídeo que registra soldados israelenses pulando feito bobos da corte ao som de “Ai se eu te pego” no meio do deserto, tive a impressão de que o sentimento que a cena deve despertar em você seja algo semelhante a quando conheço uma menina de 12 ou 13 anos que se chama Anna Júlia. É estranho, e ao mesmo tempo fascinante, quando uma música nossa passa a fazer parte assim da vida das pessoas, né? Agora imagine o que não estar por vir no trilho dessa versão que você acabou de gravar em inglês? A internacionalização do nosso hit, não sei se você lembra, além de regravações em espanhol, italiano e inglês, rendeu nada menos do que uma participação de George Harrison, fato que até hoje nos enche de orgulho.
Bom, independente do que acontecer daqui pra frente – e não sei se isso serve bem de consolo – acredite que provavelmente daqui a dez anos você ainda será amado ou odiado por causa de “Ai se eu te pego”, portanto faço votos sinceros de que consiga construir um legado musical consistente o bastante para evitar que todo seu trabalho seja tomado por uma só música.
Antes de correr o risco de me estender demais, gostaria de desejar que sua turnê internacional, que se inicia agora em janeiro, seja a primeira de muitas. Aliás, não seria mau se você resolvesse passar logo todo o ano de 2012 viajando pelo mundo. Nada pessoal, é só uma precaução com o meu cérebro. Para terminar, um único pedido: da próxima vez que gravar uma música, em prol da sanidade mental de milhões de pessoas, por favor, considere não criar dancinhas."
um abraço,
Bruno Medina
(Texto extraído do Blog do cantor Bruno Medina, 'Instante Posterior')
Nenhum comentário:
Postar um comentário