RIO - Conhecido pelo jeito extravagante de se vestir e por andar acompanhado por guarda-costas mulheres, o coronel Muamar Kadafi é o chefe de Estado não monarca há mais tempo no poder no mundo - mesmo que oficialmente não ocupe um cargo no governo. Ele lidera a Líbia desde que depôs o rei Idris I, sem um banho de sangue, e quando tinha apenas 27 anos.
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Sua sobrevivência por 42 anos no poder se deveu a uma combinação da mão de ferro que usava contra dissidentes com a habilidade política, que usou para romper o isolamento diplomático que marcou o país após o envolvimento em atentados terroristas.
Foto de arquivo do ditador líbio. (AP)
Foi na academia militar que surgiram os planos para derrubar a monarquia. Ele chegou a ser enviado para o Reino Unido, para receber treinamento militar, mas na volta lançou sua tentativa de golpe, em 1 de setembro de 1969.
Após conquistar o poder, adotou um discurso que misturava panarabismo, anti-imperialismo e aspectos do Islã. Embora permitisse que os líbios tivessem pequenas empresas, o controle das grandes cabia ao governo. Uma de suas ideias era a união de Líbia, Egito e Síria numa espécie de federação. Sua filosofia política foi registrada no "Livro Verde", em que dizia oferecer uma alternativa para o capitalismo e o socialismo.
Em 1977, ele criou o sistema Jamahiriya, ou Estado das Massas, no qual o poder deve ser desempenhado por "milhares de pessoas em comitês populares". Por isso, não adotava um cargo formal, apresentando-se como um guia espiritual da nação. Na prática, no entanto, mantinha o poder absoluto sobre o país.
Seu regime aprisionou centenas de pessoas, sentenciando algumas delas à morte, segundo organizações de defesa dos direitos humanos. Num dos episódios mais dramáticos, 1.200 prisioneiros foram massacrados na prisão de Abu Salim.
O jeito extravagante era confirmado em viagens internacionais, quando montava tendas luxuosas para se hospedar, ou mesmo na Líbia, para receber visitantes. Mas o Ocidente desconfiava de apoio a grupos terroristas, o que levou o então presidente americano, Ronald Reagan, a chamá-lo de "cachorro louco", com os EUA bombardeando Bengazi e Trípoli, num ataque que matou a filha adotiva de Kadafi.
Após um longo caminho de reconciliação internacional, Kadafi visitou os EUA em 2009, para a Assembleia Geral das Nações Unidas, numa viagem polêmica. O líder líbio não só acusou o Conselho de Segurança de ser um grupo terrorista, como rasgou uma cópia da Carta da ONU. Ele pediu ainda uma compensação de US$ 7,7 trilhões à África pelos antigos colonizadores.
O caso Lockerbie voltaria às manchetes em 2009, quando Abdel Basset al-Megrahi - um agente da inteligência líbia condenado pelo atentado ao avião - foi solto e recebido na Líbia como herói. Apesar das críticas internacionais, o líder líbio parecia firme no poder. Até a Primavera Árabe começar.
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