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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Veja divergências entre depoimentos e a perícia sobre menino morto por PM

Veja divergências entre depoimentos e a perícia sobre menino morto por PM

Boletim e perícia divergem sobre pólvora na mão, tiros e projéteis no carro.
Justiça Militar decretou segredo de justiça do caso, segundo o SPTV.

Do G1 São Paulo
A perícia e o boletim de ocorrência no caso do menino de dez anos morto numa perseguição policial, no Morumbi, não dizem a mesma coisa. Isso porque alguns detalhes que o que estão no boletim de ocorrência colhidos a partir de depoimentos dos policiais são diferentes do que diz a perícia. A Justiça Militar decretou segredo de justiça do caso, segundo o SPTV. Veja algumas discrepâncias:
Havia pólvora na mão do menino?
Um exame feito pela perícia na mão do garoto apontou a presença de pólvora. Mas os policiais civis que investigam o caso não consideram que essa seja uma prova definitiva de que ele atirou nos policiais.

Houve tiros vindos do carro?
No boletim de ocorrência, os policiais militares contaram que os meninos bateram o carro na traseira de um caminhão e, neste momento, o motorista, de dez anos, atirou na direção dos policiais, havendo imediato revide. Só que os peritos não encontraram sinais de disparos feitos de dentro pra fora do carro.
Como o menino caiu depois de baleado?
Os policiais também declararam que deram um tiro cada e o menino foi atingido e tombou. A perícia diz que a posição do corpo indica que o garoto parecia tentar sair do carro.
Havia arma e projéteis no carro?
Em outro trecho do B.O., os PMs dizem que encontraram dentro do carro um revólver calibre 38 com três balas íntegras e três deflagradas. A perícia não localizou nenhum projétil e afirma que o carro estava completamente revirado.
Discrepância entre o boletim de ocorrência e a perícia (Foto: TV Globo/Reprodução)Discrepância entre o boletim de ocorrência e a perícia (Foto: TV Globo/Reprodução)
A Secretaria de Segurança Pública informou que todas as versões vão ser analisadas e que é preciso esperar a investigação terminar. Nesta sexta-feira (9) os quatro policiais militares que participaram da perseguição vão depor na polícia civil.
Áudios serão analisados
A Polícia Civil de São Paulo analisa o áudio do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) sobre o caso do menino de 10 anos morto pela PM em uma suposta troca de tiros no dia 2 na Zona Sul da capital. Ele e um amigo, de 11 anos, tinham invadido um prédio no Morumbi e furtado um carro. O veículo foi perseguido pelos policiais até bater.

A corporação enviou a gravação na quarta-feira (8) ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). A polícia investiga se os policias militares mataram a criança para se defenderem ou a executaram. Câmeras de segurança que estão com a investigação mostram parte da ação policial.

Quatro PMs que participaram da ocorrência deverão ser ouvidos na sexta-feira (10) pelo DHPP.
Segundo policiais e peritos ouvidos pelo G1, o áudio que está sendo analisado pelo DHPP começa com um telefonema de um dos proprietários do carro furtado à PM. A pessoa que liga diz que o veículo foi furtado da garagem do prédio e está com pouco combustível, além de problemas mecânicos.

A gravação ainda tem um policial militar que fala estar acompanhando o veículo furtado. Em seguida, ele diz duas vezes a frase “jogou pra cima”. De acordo com policiais, a expressão é um jargão policial para dizer que alguém está atirando.

Apesar disso, os policiais não usam a palavra ‘tiro’ no áudio. Também não é possível escutar os disparos. De acordo com a investigação, policiais da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicleta (Rocam) e duas viaturas da PM participaram da perseguição.

Segundo o boletim de ocorrência do caso, os policiais disseram que dois tiros partiram do carro furtado no momento em que ele era seguido pela PM. E que após o veículo perder o controle e bater, mais um tiro foi dado de dentro dele. Nesse momento, dois policiais da Rocam assumiram ter dado um disparo cada um.

Um dos tiros atingiu a cabeça do menino, que morreu no local, de acordo com o boletim de ocorrência. Na gravação do Copom, um policial pede para acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) porque há uma pessoa baleada no local.

A análise do áudio ajudará a investigação a embasar sua convicção sobre o caso para responder se a morte do menino foi uma reação dos policiais ou foi um assassinato.
Menino de 10 anos, morto pela polícia, dirigia o carro. Ele estava acompanhado pelo amigo, de 11 (Foto: Reprodução/TV Globo)Menino de 10 anos, morto pela polícia, dirigia o carro. Ele estava acompanhado pelo amigo, de 11 (Foto: Reprodução/TV Globo)
Cena mexida
Nesta quinta-feira (9) o Bom Dia São Paulo trouxe a informação de peritos que disseram que o cenário onde o corpo do menino foi encontrado acabou alterado. De acordo com a equipe de reportagem, a perícia não encontrou indícios de que tenham sido feitos disparos de dentro do carro furtado.

Segundo a apuração do Bom Dia São Paulo, o automóvel furtado e o cadáver do menino haviam sido mexidos. Peritos ouvidos pelo G1 disseram que é importante descobrir se a cena foi alterada pelos PMs ou pelos socorristas do Samu.

Segundo a PM, o garoto de 10 anos dirigia o carro e atirava. Os policiais militares apresentaram ao DHPP um revólver calibre 38 dizendo que pertencia ao menino morto.

O amigo dele, de 11, estava no banco de trás do carro e foi apreendido. Ele já deu três versões diferentes para o que aconteceu naquela noite. Primeiro confirmou no boletim de ocorrência a versão da PM: de que o amigo atirou contra os policiais durante a perseguição e após bater o carro.

Depois, ao DHPP, disse que o amigo só atirou durante o trajeto em que o automóvel era perseguido pela PM.

E para uma psicóloga da Corregedoria da PM negou que o amigo estivesse armado ou de ter ocorrido troca de tiros. E ainda falou que os policiais ‘plantaram’ um revólver nas mãos do garoto morto. Amigos da vítima também disseram ao G1 que ela não andava armada.

Por causa disso, o DHPP avalia se irá ouvir o garoto novamente.
Perseguição a menores que teriam furtado carro na Vila Andrade, Zona Sul de São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução)Perseguição a menores que teriam furtado carro na Vila Andrade, Zona Sul de São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução)
Advogado
Não foi só o menino de 11 anos que deu versões diferentes para o caso. Um advogado que chegou a dizer a GloboNews e a Corregedoria da PM ter ouvido um disparo sair do carro furtado pelos menores mudou a versão. Em depoimento na quarta-feira ao DHPP, ele disse que não sabia dizer de onde partiu o tiro que ouviu.

Pessoas ligadas à segurança pública e direitos humanos criticaram um vídeo supostamente feito por policiais militares com o menino de 11 anos. Nas imagens, o garoto diz que o amigo atirou contra os PMs e que os agentes salvaram a vida dele. Para os especialistas, os agentes coagiram o garoto num interrogatório sem advogados ou na presença de seus representantes legais. Desse modo, infringiram o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O vídeo viralizou pelo aplicativo de celular WhatsApp. As imagens foram encaminhadas para a perícia.

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